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Li com o maior carinho os primeiros esboços deste livro e fiquei encantado com o poder de sua linguagem singela tocar em sentimentos tão profundos. Que pessoa sensível, pensei eu. Não poderia ser diferente, pois o conheci por meio de sua filha Irene. Ela também é especial. Tive o privilégio de ser seu professor na Faculdade de Medicina da URFJ, acompanhá-la na residência em Hematologia e tornar-me seu amigo ao orientá-la na pós-graduação. Hoje, embora uma pesquisadora de ponta, guarda a simplicidade do povo de Pedregulho, terra natal de Márcio.

Conheci Márcio há pouco tempo e, ao querer saber mais sobre esta notável figura, ouvi de Irene uma verdadeira declaração de amor: "o meu pai é uma das pessoas mais generosas que conheço, tem um coração enorme e é um obstinado pelo trabalho. Inteligente, rápido e muito empreendedor é muito exigente em tudo que faz. Encanta todos que estão a sua volta. Meu pai é um sonhador e todos os filhos são muito apaixonados por ele". Irene, contudo, não se esquece da mãe que "dá a força e o amor para que tudo isto aconteça". Melhor definição da família Biasoli impossível. Nos últimos tempos, sua atenção voltou-se para as crianças, influenciada pelos netos e pelo projeto social que iniciou para os filhos de seus funcionários durante os finais de semana, cuja sua extensão hoje é bem maior.

Ao percorrer as páginas do livro - Gegê: O Indiozinho que Amava os Animais - percebemos que Márcio tocou nos elementos fundamentais da reabilitação. Começa com a solidariedade, o mais nobre dos sentimentos, quando os amigos se entregam na construção da cadeira. Depois, entende que uma cadeira especial é fundamental neste processo. Não existe nada tão verdadeiro. Logo vem a orientação de uma pessoa mais experimentada, o professor Pintinho, que lhe ensina os primeiros passos. Há muito sabemos que a convivência com pessoas mais vividas em situação semelhante, hoje conhecido como aconselhamento de pares, é primordial na reabilitação. Os próprios amigos ficam em dúvida sobre qual foi o fator determinante em sua reabilitação: se foi a cadeira ou se foi o professor Pintinho. Então o avô define, com sabedoria, ter sido a força de vontade de Gegê. Mas, no fundo, é a soma de todos estes fatores. Por fim, entra o tênis em cadeira de rodas, o esporte que complementa a reabilitação e fortalece a integração social.

Impossível não me emocionar ao ler o livro, lembrar minha primeira cadeira de rodas, a solidariedade dos meus amigos, a implantação do tênis adaptado no Brasil e os torneios internacionais. Gegê representa, sem dúvida, um dos meus alunos da Escolinha Cadeiras na Quadra, projeto que atende as crianças cadeirantes em Niterói há quatro anos e que agora chega ao Rio. A homenagem que Márcio me presta é fruto da indiscrição de Irene ao revelar ao pai o meu apelido de infância. Até hoje em Pelotas, minha terra natal, sou conhecido como Pintinho.

Enfim, o mais emocionante é que Gegê se reabilita integralmente. E, como tantos outros, só trocou as pernas pelas rodas e rola pela vida como uma pessoa normal.

José Carlos Morais, Pintinho.

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